Pesquisadores defendem mais investimento em ciência para salvar a Amazônia

A ideia de que a redenção da Amazônia vai nascer do conhecimento humano, sobretudo canalizado para pesquisa em ciência e tecnologia, foi defendida nessa quinta-feira (10) pelo ex-ministro da Fazenda e embaixador Rubens Ricupero, membro da Associação PanAmazônia. Ele falou sobre o assunto em mensagem de vídeo divulgada na abertura do seminário “40 anos do aniversário de assinatura do Tratado de Cooperação Amazônica (TCA): um debate sobre o futuro da Amazônia”.

Ricupero disse que nós, como país, continuamos a demonstrar que não fomos capazes, apesar da importância da região no nosso patrimônio, de desenvolver realmente um esforço de pesquisa científica à altura da dimensão que a Amazônia representa. “Tem havido até um paradoxo que, em um ou outro ano, o Brasil gastou mais em pesquisa na Antártida do que na região amazônica, o que é de uma ironia extraordinária”, afirmou.

Para o embaixador, precisamos olhar para isso, pois a solução para os problemas humanos de desenvolvimento, de prosperidade com justiça, com distribuição e com proteção as culturas tradicionais da Amazônia, só pode vir pelo caminho do conhecimento humano, pelo nosso esmero de melhorar nossa qualidade educacional, nossa capacidade de adquirir e conquistar as fronteiras do conhecimento humano.

“Estamos longe disso”, comentou. “Mas o caminho para conseguir isso é imitando o tratado da Antártida, assinado há muitos anos nos termos de cooperação científica, com comitês que saibam organizar a pesquisa evitando a duplicação inútil – muitos fazendo a mesma coisa enquanto que ninguém faz certas coisas necessárias”, opinou Ricupero.

 

Órgão internacional

O embaixador defendeu ainda a criação de um mecanismo para a Amazônia comparado ao Painel Intergovernamental sobre Mudanças do Clima (IPCC), principal organismo de avaliação das mudanças climáticas em âmbito global. Conforme ele, embora tenha certo grau de ligação com os governos, que nomeiam os cientistas e pesquisas, o IPCC é, sobretudo, conduzido pelos homens do conhecimento, que reúnem todas as pesquisas que se fazem sobre as mudanças climáticas e periodicamente produzem um relatório que é o estado da arte nesse campo.

Nós temos que fazer a mesma coisa para a Amazônia, de acordo com Ricupero. “É claro que a Amazônia faz parte também desse estudo do IPCC, mas parte incompleta porque é apenas a Amazônia e só o aspecto climático, não se olha a biodiversidade, o problema dos rios, e outros aspectos. Nós temos que ter um mecanismo espontâneo, da sociedade civil para reunir, fomentar, promover e desenvolver o conhecimento da Amazônia”, declarou.

O tratado

O Tratado de Cooperação Amazônica (TCA) foi assinado em 1978 pelos países amazônicos. É um instrumento de orientação para que a cooperação regional promova ações voltadas para o desenvolvimento da Região Amazônica.

Dando voz aos povos amazônidas

Rubens Ricupero, que é membro da Associação PanAmazônia e ex-secretário-geral da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), explicou que quando o Tratado de Cooperação Amazônica (TCA) foi negociado nos anos 1970, o objetivo era aproximar as populações amazônicas dos diversos países que fazem parte dessa região.

Na época, conforme ele, o que os impulsionou acima de tudo foi a ideia de que a sociedade civil, as mulheres e os homens que vivem na Amazônia é que deveriam ser os atores do seu próprio destino, não os Estados, os governos que são distantes, não conhecem a realidade dessas populações.

“E para nossa alegria, hoje, 40 anos depois, o que nós vemos na PanAmazônia é justamente esse fruto, o desejo da sociedade civil de reunir brasileiros, bolivianos, peruanos, equatorianos, colombianos, venezuelanos, habitantes do Suriname, das Guianas, todos irmanados por essa mesma preocupação de desenvolver uma política adequada para a região amazônica”, disse o ex-ministro.

39,6%

Foi o corte no orçamento do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) – um dos mais importantes da região amazônica – este ano, comparado ao ano anterior. Os cortes orçamentários na área de ciência, tecnologia, inovação e desenvolvimento no Brasil ameaçam o futuro das pesquisas.

Seminário termina nesta sexta-feira

O seminário “40 anos do aniversário de assinatura do Tratado de Cooperação Amazônica (TCA): um debate sobre o futuro da Amazônia”, realizado na Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (Fieam), pela Associação PanAmazônia em parceria com a Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA) e o Instituto de Pesquisas em Relações Internacionais (IPRI) do Ministério das Relações Exteriores (MRE), termina nesta sexta-feira (11).

“Ar condicionado do planeta”

A presidente da Associação PanAmazônia, Rosalía Arteaga, disse durante o seminário que o pacto amazônico foi pioneiro na questão de reconhecer a importância que o tema ambiental tem no mundo.
Conforme ela, quando o TCA foi assinado se falava muito sobre a Amazônia como pulmão da humanidade, depois as pesquisas falaram que as florestas maduras consomem quase a mesma quantidade de oxigênio, então não é mais o pulmão do planeta, mas sim o ar-condicionado do planeta.

“Se nós não tivermos a Amazônia com todas as florestas, boa parte dos Estados Unidos será um deserto. Se nós não tivermos o grande moderador do clima no mundo o que aconteceria nos pólos, na Europa, na Ásia, na África? Então, a Amazônia é importante para o planeta inteiro como esse grande moderador do clima”, disse.

Ela falou ainda da importância de considerar a Amazônia não como território isolado, que surge por geração espontânea. O relacionamento com o andino amazônico é importantíssimo. “Se nós não considerarmos o andino amazônico, a Amazônia não existe porque boa parte da água que temos na Amazônia vem dos Andes. Boa parte da biodiversidade que é arrastada pelas correntes dos rios vem dos países andinos. Se fecha as torneiras lá, os problemas surgem aqui, nas cidades amazônicas”, ressaltou.

Para ela, o futuro da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA) tem que ser “olhar para os Andes”. “O que está acontecendo ali, quais são os problemas que nos Andes emergem e quais são as soluções que devem se dá lá para não termos problemas nas cidades amazônicas”, apontou.

A preocupação pelo TCA que está vigente através da OTCA, de acordo com a presidente da Associação PanAmazônia, tem que ser com o fortalecimento da personalidade e da identidade da panamazônica. “Temos que fortalecer as organizações que fazem parte da panamazônia, as parcerias com as instituições acadêmicas, os parlamentares. Agir juntos tem uma força muito importante”.

 

Fonte: Acrítica

 

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