Jornalista deixa tudo para trás e cria projeto em defesa da Amazônia

 

Uma jornada pessoal capaz de mudar completamente os horizontes de uma vida. Em 2016, a jornalista Maria Fernanda Ribeiro estava angustiada, em busca de algo na profissão que a motivasse, que fizesse diferença para a realidade de outras pessoas. A morte do pai foi o marco para uma transformação: nascia o projeto “Eu na Floresta”.

“O projeto surgiu de uma insatisfação pessoal que eu nutria há anos. Trabalhei em redações e também com a comunicação corporativa. Já estava com mais de 30 anos e não queria simplesmente sair por aí fazendo um mochilão. Era preciso encontrar alguma coisa que me tirasse desse buraco pessoal e angústia”, relata a jornalista.

Essa busca já durava três anos. Nesse período, Maria Fernanda fez cursos de desenvolvimento pessoal, MBA, meditou, correu e até comprou um skate para circular de um jeito diferente pelas ruas de São Paulo. Tudo fazia parte de uma busca por algo ainda desconhecido. Mal sabia ela que as respostas estavam a mais de dois mil quilômetros de distância.

“Sentia que poderia fazer algo a mais na profissão, algo que pudesse trazer não apenas satisfação e aprendizado pessoal, mas que também tivesse impacto na vida das pessoas.”

Em novembro de 2015 veio a morte do pai. A crise existencial alcançava o seu auge. Um primo, que mora no estado do Pará, em Alter do Chão, a convidou para tirar umas férias e descansar. “Eu, que nunca tinha nem ouvido falar daquele lugar, topei na hora. Meu primo sugeriu que eu ficasse sozinha em uma comunidade ribeirinha no rio Arapiuns, um braço do Tapajós. Foram necessárias nove horas de barco para chegar. Nos primeiros cinco minutos navegando eu me perguntei: Onde é que eu estava até agora que ignorei por tantos anos esse Brasil?”, lembra.

“Voltei para São Paulo, pedi demissão, fechei o apartamento e cinco meses depois estava com minha mochila embarcando em um voo para o Acre para conhecer a minha primeira aldeia indígena.”

O projeto começou, de fato, em junho de 2016 e Maria Fernanda ficou um ano e meio viajando pelo Norte brasileiro sem voltar para São Paulo. Atualmente, ela fica indo e voltando para a Amazônia, fazendo pesquisas e reportagens. Sete estados já foram visitados até o momento: Acre, Amazonas, Rondônia, Roraima, Mato Grosso, Amapá e Pará. São incontáveis horas em barcos e canoas, milhares de quilômetros rodados nas desestruturadas BRs que cortam os estados e algumas viagens de avião.

“Em todos os estados o meu foco sempre foi as comunidades ribeirinhas, indígenas e quilombolas, com o objetivo de saber como é a relação dessas pessoas com a floresta, quais seus princípios e valores”, explica a jornalista.

Em relação ao trabalho de campo, Maria Fernanda detalha que chega e se estabelece conforme a necessidade e a autorização das comunidades. “Chego de peito aberto e pronta para ouvir. Aliás, muito mais ouço do que falo. Aprendo muito mais do que ensino. E vivo de acordo com o a rotina de cada lugar. Se a alimentação é uma carne de caça, é também esse o meu almoço.”

“Tomo banho no rio, durmo na rede, saio com eles para o plantio, caça e pesca. Acompanho as mulheres no artesanato, ouço as histórias, gravo entrevistas, registro os momentos.”

Maria Fernanda diz ainda que cada uma das pessoas que encontrou pelo projeto a impressionou com suas noções de gentileza e generosidade. Pessoas que dividem tudo o que possuem, mesmo quando esse tudo é quase nada. As pessoas a ajudaram a entender que a Amazônia não é uma só, são várias, assim como o Brasil. “Conhecer a nossa cultura é crescimento pessoal, é entender a diversidade, é perceber que Sul e Sudeste são apenas uma pequena parcela desse país gigante, com suas cores e povos de natureza exuberante. A beleza está por aí e só vai vê-la quem se atrever a pegar um barco, estender sua rede e se deixar navegar sem pressa” finaliza a jornalista.

Ganância

Do ponto de vista ambiental, as lições também são muitas. “Acredito que somente com a aproximação das pessoas com a floresta é que vamos criar mais empatia pela natureza e pela necessidade de preservá-la”, afirma. “É muito importante ressaltar o quanto os índios e as terras indígenas demarcadas são importantes nesse trabalho de preservação. Quando chegamos numa aldeia, é possível notar a densidade da mata e como ela está sendo cuidada. Os povos indígenas são os principais guardiões da nossa floresta”, acrescenta.

“Estamos deixando para trás um planeta devastado. A ganância está destruindo a única coisa que poderia ajudar a preservar as futuras gerações: a natureza.”

Fonte: G1 (Fábio Gallacci, Terra da Gente)

Fotos: Maria Fernanda (Fotos Arquivo Pessoal)

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